À sombra do abandono, EJA registra menor índice de matrículas da última década em Mato Grosso do Sul
Problemas socioeconômicos, familiares e educacionais são fatores determinantes para o abandono escolar no Brasil. Em meio a isso, Mato Grosso do Sul entra em evidência ao registrar a maior queda no número de matrículas do programa EJA (Educação para Jovens e Adultos), dos últimos dez anos.
Esse declínio reflete um cenário nacional preocupante, onde 68 milhões de pessoas com mais de 18 anos não concluíram o Ensino Básico. É o que mostra o Censo Escolar da Educação Básica, divulgado pelo Governo Federal nesta quinta-feira (22).
O levantamento aponta que, entre 2022 a 2023, o Estado contabilizou uma queda de 9% no número de matrículas do programa, passando de 21.281 para 19.237, maior queda desde 2014. Em contraponto, os dados mostram que o número de matrículas no Ensino Regular (Infantil, Fundamental e Médio) subiu de 634.767 em 2022, para 643.222 no ano passado.
Mato Grosso do Sul na contramão da média nacional
Essa queda ultrapassa a média nacional que ficou em 6%. Em 2023, o país registrou 2,5 milhões de matrículas na modalidade EJA, uma redução de 184 mil matrículas em comparação ao ano anterior, quando foram contabilizadas 2,7 milhões.
Anteriormente conhecido como supletivo, a EJA tem como público-alvo jovens e adultos que não tiveram acesso ou não concluíram a educação básica na faixa etária convencional.
O programa é aberto a pessoas a partir de 15 anos para conclusão do ensino fundamental e a partir de 18 anos para o ensino médio.
Alternativa para quem sempre teve a educação negligenciada
Por se tratar de um programa voltado para pessoas fora da faixa etária escolar, é comum que as salas de aula sejam compostas por diferentes perfis. O principal deles é de pessoas que trabalham durante o dia e estudam no período noturno.
Nesse ponto, entram fatores determinantes que contribuem para o abandono escolar.
Ao terem que conciliar trabalho e estudo, a balança sempre pende para o lado mais fraco. Sem incentivos e políticas públicas que garantam a permanência desses estudantes, muitos optam por seguir o caminho que lhes garanta uma fonte de renda, limitando-se, assim, a subempregos que não exigem escolaridade básica.
Recomeço
Em 2023, o Jornal Midiamax contou a história de Erli Nunes, um dos milhares de brasileiros que precisaram interromper os estudos para trabalhar. Somente aos 76 anos e já aposentado, ele pôde voltar à escola para completar o Ensino Fundamental por meio da EJA.
“Passou tanto tempo desde que parei de estudar que mal me recordo. Agora, com a EJA tive oportunidade de voltar. Para mim, nunca é tarde para estudar, sempre há algo novo para aprender”, disse na época.
Assim como Erli, os dados mostram que as salas de aula estão repletas de alunos ‘não convencionais’. Conforme o Censo, a maioria dos estudantes tem entre 20 e 29 anos (5.969), em seguida aparece o público com mais de 40 anos (4.930) e pessoas entre 30 e 39 (4.020).
Para Moacyr Arruda, diretor da Escola Municipal Osvaldo Cruz, o maior desafio é combater a defasagem dos estudantes, que é ainda mais alarmante na EJA.
“Eles desistem muito fácil, por isso tentamos sempre cativar o aluno. Aqui recebemos todo tipo de pessoas, muitas com histórico de discriminação, então fazemos o possível para o aluno se sentir acolhido. Além disso, focamos na busca ativa”, disse.
Falta de incentivo inflaciona índices de abandono e evasão
O abandono escolar ocorre quando os estudantes deixam de frequentar as aulas durante o ano letivo. Em 2022 – último ano da série histórica – 5,7% dos estudantes do Ensino Médio abandonaram a escola em todo o Brasil, enquanto em Mato Grosso do Sul, os índices ficaram em 4,6%.
O ponto mais alto da série histórica ocorreu em 2014, quando a taxa de abandono no Ensino Médio atingiu 7,6%. Na época, Mato Grosso do Sul superava a média nacional, registrando 8,2% de abandono.
Por sua vez, a evasão escolar ocorre quando os estudantes, sejam reprovados ou aprovados, não efetuam matrícula para dar continuidade aos estudos no ano seguinte. Assim como no abandono, o Ensino Médio é o líder em evasão escolar.
Em 2020, último ano da série histórica, o percentual de evasão no Brasil foi de 5,9%, menor índice desde 2014 (11%). Já em Mato Grosso do Sul, o percentual foi de 6,8% em 2020. Apesar de estar acima da média nacional, os números foram os mais baixos desde 2014.
Taxas de reprovação superam a média nacional
Enquanto nacionalmente os índices de reprovação no Ensino Médio foram de 7% em 2022, Mato Grosso do Sul registrou uma taxa de reprovação de 11%.
Nas etapas finais do Ensino Fundamental, a média nacional de reprovação foi de 6% em 2022, enquanto Mato Grosso do Sul teve um percentual de 8% dos alunos reprovados.