‘Dama do rasqueado’, Delinha fez a vida e carreira musical em Mato Grosso do Sul
É difícil achar um sul-mato-grossense que nunca tenha ouvido falar na ‘Dama do Rasqueado’. Talvez você não a conheça por Delanira Pereira Gonçalves, mas sim como Delinha, apelido carinhoso que ficou conhecida. Natural de Vista Alegre, distrito de Maracaju, a cantora deixou grandes contribuições para o cenário musical e cultural de Mato Grosso do Sul.
Delinha, a eterna Dama do Rasqueado, nasceu em uma segunda-feira, às 4h, no dia 7 de setembro de 1936. Em sua casa, morava com os pais, os avôs maternos e alguns tios. Ali, viveu até os 4 anos de idade, quando se mudou com a família para Campo Grande.
Na Capital, morava no bairro Imbirussu, no encontro da “Rua de Baixo”, com a “Rua de Cima”. Estas, depois se tornaram, respectivamente, Avenida Bandeirantes e a Tiradentes. A família tocava um “bolicho”, armazém de secos e molhados, e depois de um tempo se mudaram para o bairro Amambaí, onde Delinha viveu até seus últimos dias.
Delinha chegou a enfrentar dificuldades financeiras com a família, portanto teve uma infância de muitas responsabilidades. A cantora ajudava a vender bolos fabricados pela mãe, enquanto mantinha os estudos no colegial. Aos 19 anos já estava noiva de seu primo Zézinho, com quem mais tarde formaria a dupla icônica ‘Délio e Delinha’.
Noivado e carreira
Com seu noivo, Delinha aprendeu as primeiras notas musicais no violão. Assim, se formava uma das duplas musicais mais relevantes no cenário musical do estado: ‘Délio e Delinha’. Conhecidos mais tarde como “casal onça de Mato Grosso”, chegaram a gravar 14 discos 78 RPM mais 19 LPs e mais 4 CDs.
A dupla ficou famosa com pelo ritmo rasqueado, o qual agrega vários estilos musicais presentes na cultura brasileira, tanto brasileira como estrangeira. O rasqueado de Délio e Delinha possui claras influências de músicas fronteiriças, como a guarânia, a polca paraguaia e o chamamé, sendo, em alguns casos, difícil a diferenciação entre cada estilo.
Donos de grandes sucessos, lançaram em 1959 os rasqueado “Malvada” e “Cidades irmãs”, de autoria da dupla. Em 1960, gravaram “Prenda querida” e a guarânia “Meu cigarro”. Um ano depois, lançaram a cana-verde “Louvor a São João” e o arrasta-pé “Triste verdade”.
Já em 1962, deram vida aos rasqueados “Coisinha querida”, “Goianinha” e “Estrela do luar”. Em 1963, entre outras composições, o maxixe “Mundo de ilusão” e a cana-verde “Triste adeus”. No próximo ano, gravaram o rasqueado “Lembrando Mato Grosso” e o maxixe “Esperança perdida”.
De conhecimento de poucos, contudo, o casal chegou a cantar em circos. A amiga de Delinha, Janaína Costa, contou ao Jornal Midiamax, em entrevista no ano de 2022, que chegou a vê-la cantar no circo em Rondonópolis, quando ainda não a conhecia.
“Isso é uma coisa que poucos sabiam. Delinha cantava muito no circo. Ela foi lá com o meu pai e, de repente, eles viram que subiu no palco uma mulher muito linda, que cantava bonito. Sem microfone, com a voz linda”, disse.
Carreira solo e despedida
A dupla se desfez, com a separação do casal, em 1970. Assim, Delinha seguiu com sua carreira solo. Délio, contudo, morreu no dia 8 de fevereiro de 2010, vítima de um câncer no pulmão.
Delinha, entretanto, faleceu no dia 16 de junho de 2022, aos 82 anos de idade. Na época, a cantora se recuperava de uma crise respiratória, recebendo tratamento médico em casa. Dias antes da sua morte, a Dama do Rasqueado foi homenageada na novela “Pantanal”, da TV Globo e no tradicional Arraial de Santo Antônio, em Campo Grande.