Como a reconstrução dos seios após o câncer de mama pode ser importante para a recuperação da autoestima

Como a reconstrução dos seios após o câncer de mama pode ser importante para a recuperação da autoestima
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Ainda que haja grandes esforços sociais para promover campanhas de prevenção ao câncer de mama, falar da doença ainda é um grande tabu. Em 2022, foram 73.610 casos novos diagnosticados no Brasil, e a maioria deles, quando tratados adequadamente, apresentam um bom prognóstico. Esse tratamento pode ser quimioterápico, radioterápico e/ou cirúrgico e depende da fase em que a doença se encontra e do tipo de tumor.

Nesse processo complexo de cuidados para que a doença não avance, o corpo sofre mudanças drásticas, reflexo da medicalização e, muitas vezes, de cirurgias. Por conta disso, grande parte das mulheres que detectam o câncer de mama e seguem com o tratamento enfrenta um novo reflexo no espelho, um reflexo de algo desconhecido, diferente de todas as mudanças ocorridas anteriormente ao longo da vida. Os seios são parte integrante da nossa sexualidade, nos proporcionam prazer, autoestima, segurança e sensualidade. A retirada ou a mudança dessa parte do corpo tem impacto direto nesses aspectos tão importantes para nós.

A Serventuária de Justiça de 62 anos, Regina Celia Maroco, passou pelo tratamento contra o câncer de mama duas vezes. De início, sabendo o que iria enfrentar, focou suas energias e atenção na cura e na quimioterapia e deixou as questões estéticas em segundo plano. Ela precisou fazer a retirada parcial da mama, mas nada a fez abandonar a ideia da reconstituição. Ela conta que, justamente por saber que teria ao seu lado bons profissionais e tecnologia médica para os implantes, pensava em tratar-se primeiro do câncer e, depois, recorrer às próteses.

Quando a retirada total ou parcial da mama se faz necessária?

De acordo com o INCA (Instituto Nacional do Câncer), nas fases iniciais da doença o mais comum é que se faça uma retirada cirúrgica de parte do tumor ou a mastectomia, que consiste na retirada das mamas, seguida ou não de reconstituição mamária. São mudanças que afetam não só a saúde física da paciente, mas sua saúde mental. Isso porque a mente dessa mulher precisa reorganizar a forma como ela entende seu próprio corpo, fazendo uma espécie de “luto” daquele corpo que ela tinha antes – pois há perdas e mudanças de formas, volumes e curvas -, deixando-o para trás para viver dali em diante com outra imagem diante do espelho.

No caso de Regina, apresentado anteriormente, não houve retirada total das mamas, o que pode acontecer em vários casos, como conta a especialista em Clínica Médica e residente em Oncologia Clínica, Josyara Linares Girotto. A profissional afirma que a mastectomia (remoção completa da mama) é indicada em casos em que não há possibilidade de realizar cirurgia conservadora devido ao tamanho da lesão ou até mesmo o tipo da doença. Também ocorre como prevenção de desenvolvimento de um segundo câncer no local, recidiva do tumor após um tratamento mais conservador, ou mesmo quando há dois ou mais tumores na mesma mama.

Falar de câncer ainda é um tabu, mas é preciso entender melhor da doença para que haja prevenção

Girotto explica que há tipos diferentes de câncer de mama e o mais comum é o câncer ductal, aquele que surge nas células dos ductos que transportam o leite até o mamilo. Esse tipo acomete 8 em cada 19 mulheres, de acordo com a profissional. O câncer lobular é o segundo tipo mais frequente e está associado aos lóbulos responsáveis pela produção láctea. Além desses dois, há ainda cânceres mais raros, como o medular, mucinoso, metaplástico, papilar e tubular, observados de acordo com o padrão e arranjo das células.

Com as campanhas de conscientização, cada vez mais exames têm sido realizados e, portanto, os diagnósticos têm sido mais precoces, aumentando também a taxa de cura. O foco das campanhas é sempre o autoexame e, conforme explica a Dra. Josyara, ele tem importância para que tumores possam ser detectados ainda nas fases iniciais por meio de sinais e sintomas, como nódulo palpável, presença de secreção no mamilo, assimetria no tamanho das mamas, alteração de pele, inchaços ou feridas. A partir disso, a médica explica que exames como mamografia, ultrassom e ressonância podem ser indicados, e a confirmação diagnóstica é feita por meio da biópsia e análise fisiopatológica.

Todo esse processo de identificação da doença se faz possível pela prevenção. A Dra. Josyara recomenda a realização de mamografia anual para todas as mulheres com idade maior ou igual a 40 anos e, a depender de certos fatores de risco e histórico familiar, a prevenção deve iniciar mais precocemente.

Cada caso é um caso, mas todo corpo precisa de cuidado

Com o relato de Regina e as informações cedidas por Josyara, podemos perceber que cada caso é um caso, mas uma coisa é comum: o corpo é nossa casa e merece atenção. Ter autoestima e sentir-se bem consigo mesma é uma maneira de lidar melhor com o tratamento da doença. A colocação de próteses é indicada pela Dra. Josyara e deve ser uma decisão conjunta, entre paciente e médicos, considerando o melhor momento para isso.

Essa foi a estratégia que Regina seguiu, pois, mesmo com todas as mudanças físicas, inchaços por conta das medicações e cirurgia, ela mantinha elevada sua autoestima, que sempre foi boa, sabendo que era parte natural do processo em direção à cura. Depois que a Serventuária fez a reconstituição da mama com o silicone, as coisas mudaram para melhor: “Fiquei mais mulher, foi melhor até para eu me vestir, ajudou muito!”, conta ela. A recuperação cirúrgica foi rápida e ela se adaptou bem. Além disso, afirma, com alegria: “reconstituí o quadrante que havia sido retirado e, quando me olhava no espelho, achava minha mama linda, maravilhosa!”.

Se pudesse aconselhar mulheres em tratamento, Regina diria para optarem pela reconstituição e pelo implante de silicone, pois melhora a autoestima e a feminilidade. Assim, a cura não se trata apenas da remissão do câncer, mas de uma vida com qualidade e bem-estar. Todos os procedimentos cirúrgicos e medicamentosos são difíceis e dolorosos, é claro, mas podem ser mais bem encarados se a mente estiver saudável. Nessa lógica, a premissa de que mente e corpo trabalham juntos é indispensável. Estimar a si mesma, amar-se, cuidar-se e olhar-se no espelho com orgulho e afeto são parte integrante da caminhada em direção à cura!

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