Endometriose é incapacitante e pode levar ao câncer, mas mulheres são ensinadas a tolerar

Endometriose é incapacitante e pode levar ao câncer, mas mulheres são ensinadas a tolerar
Compartilhe:

A dor é de intensidade indescritível, podendo ser incapacitante, mas há quem acredite que, embora haja incômodo, deve manter a rotina inalterada. Acreditam porque foram ensinadas a continuar, independente de qualquer incômodo. A mesma dor aparece todos os meses em lugares diversos do corpo, como efeito da endometriose, uma doença de diagnóstico ainda difícil. Segundo a Associação Brasileira de Ginecologia, uma a cada dez mulheres brasileiras sofre de endometriose, doença responsável por 57% das dores crônicas e por 30% dos casos de infertilidade.

Mesmo com os dados, muitas mulheres só descobrem o diagnóstico após passarem por muitos exames e diversos médicos. “Eu sempre achei que sofria de hemorroidas. Fiz, inclusive, duas cirurgias muito dolorosas e, após dois anos da última, veio o diagnóstico da endometriose. Até esse dia, há exatos oito anos, acreditava que as dores antes, durante e depois da menstruação eram sentidas por qualquer mulher. Pensava, inclusive, que tinha pouca resistência à dor’, relata a auxiliar de serviços gerais Patrícia dos Santos, 37 anos.

As dores de Patrícia sempre foram muito intensas no período menstrual, mesmo na adolescência, sem que as queixas despertassem dúvidas dos muitos médicos ginecologistas que visitou. “Fui a um posto de saúde depois de um sangramento tão intenso, que achei ter câncer. Quando relatei todos os problemas, a médica que me atendeu suspeitou de endometriose. Ela pediu um exame de imagem e descobrimos que eu tinha várias aderências nos ovários, na bexiga e, até, no intestino. Tive que passar por uma cirurgia agressiva. Foram 2h30 no centro cirúrgico, onde tiraram meu útero, meus ovários e fizeram raspagem no intestino e na bexiga. Acredito que tive sorte, tem gente que precisa utilizar bolsa de colostomia’.

O uso da bolsa de colostomia é o temor de pacientes diagnosticadas tardiamente, como a empresária Maria Guedes*, que precisou retirar 30 centímetros de intestino após uma cirurgia de quase 6 horas. “Ao acordar da anestesia, descobri que além do intestino, retiraram parte da minha vagina e uma trompa. Fizeram a limpeza dos nervos da bexiga, mas eu não precisei usar a bolsa. Foi um alívio, já que ainda passei 20 dias com a sonda de urina e 15 com dreno’. A bolsa, contudo, passou a fazer parte da vida da vendedora Adriana Cáceres, que só soube da necessidade da cirurgia após desmaiar de dor. “Foi o proctologista que falou sobre a bolsa, ele explicou que é raro, porque eu tive aderência no reto e precisei tirar parte do intestino. É complicada a adaptação, mas eu vou vencer’.

Todos os casos são extremos de uma doença que era negligenciada há pouco tempo e que ainda intriga os médicos. “A endometriose é uma condição inflamatória crônica causada pelo crescimento de tecido uterino fora do útero e resulta em um fardo substancial para as mulheres. Embora essa doença tenha sido descrita pela primeira vez há mais de 160 anos, ainda existem lacunas de conhecimento para confirmação do diagnóstico’, explica Jennifer Clarke, da Faculdade de Saúde da Universidade de Canterbury, da Nova Zelândia.

Hoje, destaca a pesquisadora, os tratamentos são conservadores, direcionados ao controle da dor e à busca de solução para a infertilidade. “São necessárias, contudo, pesquisas de porte, já que controlar a dor e a natalidade têm sido tratamentos ineficazes diante de uma doença que pode elevar o risco de certos tipos de câncer’.

Infelizmente, embora muitas mulheres sejam submetidas a cirurgias extensas e de demorada recuperação, a endometriose não tem cura. Segundo a Associação Brasileira de Endometriose, alguns tratamentos podem ajudar na regressão da doença, por isso é sempre aconselhável procurar um médico, já que a dor pélvica não pode ser considerada normal. Assim, a mulher em idade reprodutiva que sente dor ao menstruar deve sempre insistir no diagnóstico para amenizar os custos impostos pela endometriose.

*O nome é fictício porque a paciente preferiu não ser identificada.

Fonte. O Jacaré/Sandra Luz, de Portugal

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo