Existe remédio para aumentar o desejo sexual da mulher?

Existe remédio para aumentar o desejo sexual da mulher?
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Muitas mulheres me procuram com a reclamação de estarem com falta de desejo, e buscam um remédio “como o viagra” para resolver o problema.

Mas será que isso existe?

A resposta é: mais ou menos! O FDA (Food and Drug Administration), órgão que regula os medicamentos nos Estados Unidos, tem dois medicamentos aprovados com o objetivo de aumentar o desejo feminino: o Addyi, comercializado desde 2015, e o Vyleesi, desde 2019.

Porém, nenhum deles pode ser considerado exatamente um viagra feminino, pois têm atuações diferentes do medicamento masculino.

Os remédios para ereção são vasodilatadores e atuam na excitação masculina, o que ajuda na ereção, mas não são responsáveis pelo desejo sexual. Um homem pode tomar o remédio e não ter ereção caso não tenha estímulo erótico.

No caso das mulheres, a ação dos remédios é no desejo, e não na excitação.

A flibanserina (componente do Addyi) surgiu inclusive como um medicamento antidepressivo (atua no sistema nervoso central, modificando alguns neurotransmissores), mas algumas pesquisas mostraram que ele não atingia o objetivo, porém tinha um efeito colateral interessante: o aumento da libido feminina. Apesar da mudança no foco, ainda não foi liberado no Brasil, e mesmo nos EUA não há tanta procura. Além de não poder ser considerado como um viagra feminino, apresenta algumas contraindicações e só pode ser comprado com prescrição médica, geralmente para mulheres na pré-menopausa e com baixa de libido sexual. O uso concomitante do Addy com álcool e pílulas anticoncepcionais pode acarretar severas consequências. Vale salientar que, nos estudos feitos, a diferença no aumento de relações sexuais satisfatórias entre o placebo e a flibanserina não foi muito expressiva.

Já o Vyleesi (bremelanotide) é uma injeção que pode ser aplicada 45 minutos antes da relação sexual, e teve como resultado um sentimento de maior aumento da libido e diminuição da angústia em relação ao sexo, mas apresentou como contraindicação enjoo em 40% das mulheres que realizaram os testes clínicos, mas não mexeu na frequência de encontros sexuais. É preciso aguardar por mais estudos sobre esse novo remédio antes de uma conclusão.

Feitas as devidas apresentações dos medicamentos que prometem melhorar a libido feminina, te convido a refletir comigo sobre alguns pontos:

  • Estudos e trabalhos sobre a sexualidade feminina ainda são poucos em relação à sexualidade masculina. É preciso ampliar os estudos nessa área, mas a presença da flibanserina e do bremelanotide já pode ser considerada uma vitória.
  • Vivemos em uma sociedade que extrapola o uso de remédios. Os voltados à ereção masculina têm sido usados indiscriminadamente por jovens e adultos, que muitas vezes não necessitam do medicamento. Um dos efeitos desse abuso é o vício psicológico, quando os homens deixam de conseguir se relacionar sexualmente sem o uso do medicamento por medo de não ter ou não conseguir manter a ereção, o que muitas vezes realmente ocorre pelo excesso de preocupação. É preciso ter atenção para que os medicamentos para a libido feminina não sigam o mesmo caminho.
  • Cada vez mais ansiamos por pílulas que resolvam os problemas, sem ter que lidar com eles. Os remédios são de grande valia quando indicados por médicos, e quando há a real necessidade do uso. Porém, muitas pessoas buscam somente para aliviar o sintoma e não se preocupam em descobrir as causas e tentar mudá-las, quando possível. Minha recomendação é sempre procurar pelo profissional especializado!
  • Sabia que maioria das causas de baixa de libido está relacionada à questões emocionais, socioculturais e relacionais, como repressão sexual feminina, baixo autoconhecimento, baixa autoestima, estresse, ansiedade, preocupações, cansaço, pouca intimidade do casal, falta de tempo para namorar, brigas, discussões, mitos e tabus? Nesses casos é possível que o medicamento não ajude, mas funcione como uma muleta para evitar descobrir e tratar a causa com ajuda especializada. E a partir disso, não se correria o risco de usar o medicamento para o resto da vida e não melhorar o que precisa ser de fato mexido?

 POR PAULANAPOLITANO

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