Tendência ao filho único cresce no Brasil e traz desafios para as famílias

Tendência ao filho único cresce no Brasil e traz desafios para as famílias
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No último mês de agosto, um estudo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelou que Roraima é o único estado brasileiro em que as mulheres em idade reprodutiva continuam tendo ao menos dois filhos. Nos demais, a tendência apontada foi a de diminuição no número de filhos por mulher. Ainda de acordo com a pesquisa, a taxa de dois filhos por mulher seria necessária para que o tamanho da população se mantenha constante. Os dados revelam uma realidade cada vez mais comum para as famílias brasileiras, que se habituaram aos dilemas e desafios do chamado “filho único”.  

De acordo com a psicóloga Ana Luísa Bolívar, especializada em crianças e adolescentes, “é importante lembrar que cada realidade é única, e cada família possui desejos e sonhos que devem ser respeitados”. “Vale a pena ressaltar os pontos culturais também. Se olharmos para a história, a China, por exemplo, até alguns anos atrás, possuía uma cultura onde cada família podia ter apenas um filho, pois o país era superpopuloso”, pontua.

No Brasil, houve uma clara modificação entre as gerações. “Nossos avós e bisavós tinham vários filhos, com famílias que chegavam a ter 11 ou 12 filhos. Atualmente, essa realidade não é mais comum”, salienta Ana Luísa. A especialista atribui a mudança a diversos motivos, como financeiros, sociais, familiares e arquitetônicos. “Os apartamentos hoje são bem menores do que as casas antigas”, aponta. Ana Luísa ressalta que, como qualquer escolha, ter só um filho ocasiona “benefícios e desafios”. “Poderíamos dizer que o filho único se beneficia da atenção exclusiva dos pais e tem a possibilidade de construir uma relação mais sólida e estreita com eles. Assim, pensando em uma relação afetuosa, esse filho desenvolve habilidades emocionais e sociais bem estabelecidas, criando uma base sólida para o desenvolvimento de sua autonomia, autoestima e independência”, analisa. 

De acordo com Ana Luísa, em algumas questões, o que vale para os filhos únicos vale também para aqueles que possuem irmãos, com algumas particularidades, como no caso de “comportamentos diferentes daqueles que a criança ou adolescente sempre demonstrou, ou comportamentos que estejam afetando a convivência em sociedade e gerando prejuízos para si mesmo”. Vergonha, insegurança, medos excessivos, ansiedade ou excesso de egoísmo e orgulho, com baixo limiar de frustração e desejo de que as coisas sejam sempre do seu jeito são sinais de alerta para os pais ficarem atentos. 

Desafios

Já no que diz respeito aos desafios, a psicóloga aborda dificuldades de relacionamento ligadas a compartilhar e fazer amizades, além da insegurança em ambientes com mais pessoas. No entanto, tudo vai depender “de como a família irá criar esse filho”. Não existe fórmula mágica nem receita pronta. “É importante lembrar que existem inúmeras configurações de família hoje em dia. Um filho único pode ser também aquele filho mais velho que tem uma grande diferença de idade em relação ao mais novo, ou aqueles que possuem pais separados e meio-irmãos, e, nesse caso, depende de como é estabelecida essa relação”, afirma Ana Luísa. 

Diante dessa multiplicidade atual de organizações familiares, com a ideia de rede de apoio formada por avós, tios, vizinhos e amigos ganhando cada vez mais força na sociedade, a psicóloga sustenta que a interação ideal com um filho único seria aquela em que se estabelece “um ambiente propício para a criança se desenvolver, de uma forma que favoreça e fortaleça o vínculo familiar, gerando uma relação estreita”. O resultado seria o desenvolvimento da autonomia da criança, com uma abertura para diálogos que possibilitaria várias habilidades sociais, que a auxiliaria a lidar com o todo.

“Aprender a compartilhar, negociar ou até mesmo se defender seria o ideal para que essa criança se desenvolvesse socialmente”, complementa a especialista. Nesse sentido, ela acredita que “estratégias de convivência em grupo são super necessárias e importantes para que a criança ou adolescente esteja em contatocom seus pares, desenvolvendo habilidades maturacionais de acordo com sua idade. Essa identificação é necessária para aprender a convivência em grupo e as próprias habilidades individuais”. Segundo Ana Luísa, cada indivíduo, “sendo filho único ou não, se desenvolve de uma forma única”. “Sendo assim, atividades coletivas como esportes, atividades extracurriculares, ou até mesmo uma ida ao parquinho ou a uma praça próxima são importantes para o desenvolvimento social e emocional de um filho único”. 

Sinais de alerta

De acordo com Ana Luísa, em algumas questões, o que vale para os filhos únicos vale também para aqueles que possuem irmãos, com algumas particularidades, como no caso de “comportamentos diferentes daqueles que a criança ou adolescente sempre demonstrou, ou comportamentos que estejam afetando a convivência em sociedade e gerando prejuízos para si mesmo”. Vergonha, insegurança, medos excessivos, ansiedade ou excesso de egoísmo e orgulho, com baixo limiar de frustração e desejo de que as coisas sejam sempre do seu jeito são sinais de alerta para os pais ficarem atentos. 

Afora o acolhimento e a abertura para o diálogo, outra maneira de superar o problema seria investir na convivência com outras crianças. “O ser humano precisa de um outro para se constituir neste mundo, e essa troca é fundamental para que se aprendam não só habilidades, mas também as regras de convivência. Então, a interação na escola, com primos, e em atividades coletivas é necessária e fundamental para o desenvolvimento humano”, afiança a psicóloga. “No mundo ideal, toda criança, sendo filho único ou não, deveria ter o direito de possuir as melhores possibilidades para o seu desenvolvimento emocional e social. É um dever, não só dos pais, mas também dos adultos que acercam”, arremata. 

Ambiente de diálogo é fundamental, diz especialista

Pela própria configuração familiar, um filho único pode desenvolver certa tendência à introspecção. Por conta disso, a psicóloga Ana Luísa Bolívar, especializada em crianças e adolescentes, aposta que o diálogo é uma das ferramentas mais eficientes para o pleno desenvolvimento de qualquer pessoa em fase de formação. “Trocas e ensinamentos são fundamentais para que essa criança ou adolescente possa confiar em si, nos outros, e aprenda a desenvolver essas habilidades sociais”, assegura. 

No caso de pais separados, a psicóloga afirma que eventuais diferenças entre o ex-casal deveriam ser superadas em prol de um bem maior. “Esse ambiente deveria ser o mais harmonioso possível para que nenhuma criança tivesse seu desenvolvimento prejudicado”, diz. Atividades extracurriculares, esportes coletivos, grupos de bairro, de habilidades emocionais desenvolvidos por psicólogos e grupos de pais seriam “recursos importantes para o bem-estar emocional” desse filho único. 

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